Você já ouviu falar no Litóstrotos? Pode até parecer um nome complicado à primeira vista, mas esse lugar tem um peso imenso na narrativa da crucificação. É ali que Pôncio Pilatos, governador romano da Judeia, se sentou para julgar Jesus diante da multidão. Um momento decisivo, registrado no Evangelho de João (19:13), e que ainda hoje levanta questões históricas.
Vamos entender o que era o Litóstrotos, por que Pilatos optou por julgar Jesus do lado de fora do palácio e como tudo isso se conecta com a tensão entre romanos e judeus naquele tempo.

O que era o Litóstrotos (ou Gabatá)?
A palavra “Litóstrotos” é de origem grega e significa literalmente “pavimento de pedra” — do grego lithos (pedra) + strōtos (espalhado). Em hebraico, o local é chamado de Gabatá, que provavelmente se refere a uma área elevada, como uma varanda de pedra ou pátio em frente ao palácio do governador romano.
“Ouvindo, pois, Pilatos este dito, levou Jesus para fora, e assentou-se no tribunal, no lugar chamado Litóstrotos, e em hebraico, Gabatá.” — João 19:13
Um lugar visível a todos
O mais provável é que o Litóstrotos ficava num piso elevado, de onde Pilatos poderia falar diretamente ao povo. Era uma espécie de palco político, simbólico, de onde decisões eram tomadas diante da multidão — e onde Jesus seria condenado à crucificação.
Por que Pilatos julgou Jesus fora do Palácio?
A pergunta é justa: por que Pilatos não julgou Jesus dentro da sede oficial, como era o costume romano? A resposta está no próprio texto bíblico.
“E não entraram (os acusadores judeus) na audiência, para não se contaminarem, mas para poderem comer a Páscoa. Então Pilatos saiu para fora…” — João 18:28-29
Os líderes religiosos judeus evitaram entrar no palácio romano para não se tornarem ritualmente impuros antes da Páscoa. Isso colocaria Pilatos numa saia justa: ele tinha que conduzir o julgamento de Jesus sem ofender os costumes judaicos, especialmente durante uma das festas mais importantes.
Resultado? Ele sai, e a audiência acontece do lado de fora, no Litóstrotos.
O cenário político
Pilatos não era exatamente um modelo de empatia, mas ele sabia jogar politicamente. Ele não via culpa em Jesus (João 18:38), mas também não queria problemas com a liderança religiosa dos judeus — especialmente durante a Páscoa, quando Jerusalém estava lotada de peregrinos e o clima era tenso.
Ele tentou sair da situação de várias formas:
- Ofereceu soltar Jesus como “privilégio pascal”.
- Mandou açoitar Jesus, talvez esperando que isso bastasse.
- Questionou os líderes, tentando empurrar a decisão de volta para eles.
Mas, no fim, cedeu à pressão popular.
“Se soltas este homem, não és amigo de César…” — João 19:12
Essa frase foi a gota d’água. Acusando Pilatos de traição ao imperador, os líderes judeus o colocaram contra a parede. Para proteger sua posição política, ele lavou as mãos — literalmente — e entregou Jesus para ser crucificado.
Um julgamento irregular
O processo que levou Jesus à cruz está cheio de quebras legais e éticas — tanto do ponto de vista da lei judaica quanto da lei romana.
Irregularidades segundo a lei judaica:
- Nenhum julgamento deveria ocorrer à noite.
- Nenhuma execução poderia ser decretada em época de Páscoa.
- O julgamento deveria ter mais de um dia de duração.
- Testemunhas falsas foram usadas no Sinédrio.
Irregularidades segundo a lei romana:
- Pilatos admitiu não encontrar culpa em Jesus.
- Mesmo assim, o condenou à morte por pressão política.
Jesus foi julgado fora dos padrões, em um lugar público, em um horário impróprio, por motivações políticas e religiosas, não legais.
Litóstrotos hoje
Se você for a Jerusalém, pode visitar um local tradicionalmente identificado como o Litóstrotos. Ele fica dentro do convento das Irmãs de Sião, próximo à Fortaleza Antônia — antiga sede militar romana. O pavimento de pedra ainda está lá, preservado, e marcado com símbolos que soldados romanos usavam em jogos.
Embora alguns arqueólogos questionem se aquele é o Litóstrotos bíblico, não há dúvida de que ali ocorreu muita história.
O que podemos aprender com Pilatos?
Pôncio Pilatos é um personagem que desperta sentimentos mistos. Por um lado, ele não via motivo para condenar Jesus, por outro, cedeu à pressão e lavou as mãos, tentando se isentar de culpa.
Seu dilema é o dilema de muitos hoje: manter a integridade ou ceder à pressão? Pilatos escolheu o caminho mais fácil e entrou para a história como o homem que condenou o inocente Salvador.
O julgamento de Jesus no Litóstrotos revela muito mais do que um simples erro jurídico. Ele expõe as fragilidades humanas diante da verdade. Pilatos teve a chance de libertar um inocente, mas escolheu agradar a multidão.
Que tenhamos essa história como exemplo e façamos a escolha certa diante das pressões do mundo.
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10 respostas
Muito bom o estudo
Fantático!
Li João várias vezes , mas não tinha notado essas irregularidades no processo de julgamento de Jesus. Foi muito edificante. Gratidão..
Excelente
Sempre elucidativo, Prof Rodrigo. Deus o abençoe!
Glórias a Deus por este conteúdo
Excelente post Rodrigo! Que realmente possamos não ceder a pressão pra agradar alguém, mas somente a Deus. O que mais me chamou a atenção: os fariseus não queriam entrar no Litóstrotos para não ficarem impuros, mas condenaram Jesus a morte de cruz, somente quem era amaldiçoado é que morria na cruz, na páscoa. Não é o que entrar pela boca que torna alguém impuro, mas o que sai dela.
Isso é bastante triste, pois ele sabiam da vinda do messias e não quiseram aceitar sua autoridade. Até um oficial romano reconheceu que ele era filho de Deus e o povo a quem ele tanto anunciou sua vinda não o reconheceram. E tudo isso porque Cristo questionou suas falsa justiça, da qual não provinha dEle, mas de suas intenções más.
Maravilhoso saber esses detalhes. Chego a imaginar a cena. E a tristeza toma conta do nosso. Jesus era inocente 😢
Fantástico e por demais esclarecedor.glorias a Deus
Muito bom o estudo, gostei.