Há uma passagem bíblica de Isaías 18:1-2 que diz: “Ai da terra onde há o roçar de muitas asas de insetos, que está além dos rios da Etiópia; que envia embaixadores por mar em navios de papiro sobre as águas, dizendo: Ide, mensageiros velozes, a uma nação de homens altos e de pele brunida, a um povo terrível, de perto e de longe; a uma nação poderosa e esmagadora, cuja terra os rios dividem.”
Mas, afinal, papiro é capaz de produzir um navio e sobreviver às águas do mar? Em que sentido esse papiro foi usado e como era produzido nos tempos bíblicos? Neste artigo, vamos refletir juntos sobre esse tema e sobre o papiro nas Escrituras Sagradas.

O que é papiro?
O papiro é uma planta aquática e pantanosa encontrada abundantemente no Egito, cujo nome científico é Cyperus papyrus. Estima-se que seu uso começou em 3.000 a.C. e servia para a produção de diferentes itens, tais como: papel, cordas, cestas, sapatos e tapetes. Isso porque, em sua produção, usa-se as hastes das plantas.
No caso do papel utilizado hoje em dia no mundo todo, seu nome advém justamente de “papiro”, pois antes das folhas de celulose que conhecemos atualmente, as pessoas nos tempos bíblicos utilizavam esse recurso para produzir suas próprias folhas e escrever textos religiosos, hinos, atas do governo e de juízes e muito mais. Em geral, estes papéis eram enrolados para preservação e para unir todas as páginas ao guardar os escritos.
A produção do papiro possui várias funções e, após finalizado, pode ser ilustrado não só por textos, mas por desenhos e gravuras belíssimas. Durante a série especial que fiz no Egito para o programa “Evidências”, dediquei um episódio inteiro para falar sobre a produção do papiro nos tempos bíblicos.
Em grego, a palavra que se refere a papiro é biblos. Aqui, há um elemento curioso! Sabe aquela situação em que a marca vira o nome do produto e o produto o nome da marca, como, por exemplo, “Gillette”, “Bombril” e “Durex”? Então, como biblos era o nome do papiro, o porto fenício, no Líbano, onde acontecia a exportação para o mundo inteiro, também chamava-se byblos, com apenas uma letra de diferença, “i” e “y”, mas com a mesma pronúncia.
Com o passar do tempo, o povo não chamava somente o porto e o papiro da mesma forma, como também os livros. Por exemplo, um livro é um biblos, dois livros ou mais bibloi, um livro pequeno com poucas letras era chamado de biblion, e daí também se desenvolveram os termos “biblioteca”, “bibliógrafo”, “biblioteconomia” e por aí vai.
Papiro em construção de embarcações?
O papiro não era utilizado para fabricar barcos ou nenhum outro tipo de embarcação! A passagem de Isaías 18:1-2 provavelmente refere-se à região pantanosa em que o papiro era colhido (no rio Nilo, que toma parte da Etiópia). Talvez seu uso tenha se dado em partes específicas do navio ou como uma metáfora para sinalizar uma nação distante, mas não na produção dele em si.
Para a produção de embarcações, era necessário o uso de materiais mais reforçados, como era o caso da madeira, que tinha maior resistência e durabilidade, além de flutuar com mais facilidade. Os povos do Antigo Testamento usavam diferentes tipos de madeira, dependendo da região em que estavam localizados:
- Cedro: era considerado um material resistente e durável na água, encontrado na região do Líbano, e bastante utilizado em construções maiores, como navios e barcos usados para comércio;
- Carvalho: madeira forte, resistente e rígida, era bastante usada em navios de batalha pois sua solidez ajudava na proteção da tripulação;
- Sicômoro: abundante no Egito, essa madeira era usada em embarcações menores de pesca e transporte;
- Junípero: essa madeira era encontrada na região do Mediterrâneo, frequentemente aproveitada em barcos de pesca e transporte.
A Arca de Noé
Em Gênesis 6:14 vemos o direcionamento de Deus para que a construção seja feita de “tábuas de cipreste”, ou seja, a madeira era a principal matéria-prima para produzir as embarcações.
Aqui, é interessante lembrar de duas passagens bíblicas em que o Senhor compara ele mesmo a um cipreste: Oséias 14:8 – “Eu te ouvirei e cuidarei de ti; sou como o cipreste verde; de mim procede o teu fruto.”; e Isaías 37:24b – “deitarei abaixo os seus altos cedros e os ciprestes escolhidos, chegarei ao seu mais alto cimo, ao seu denso e fértil pomar.”
Outras passagens citam a construção de diversas construções, como, por exemplo: em Êxodo 2:3-5, em que cita o cesto de junco que transportou Moisés no rio; e em Êxodo 25:10-16, em que é construída a Arca da Aliança.
Como o papiro era produzido?
O papiro e a Flor de Lótus eram os símbolos máximos no Egito, tanto que até hoje os vemos em diversos templos e construções. Mas, afinal, como eles eram feitos? Durante uma das minhas viagens, gravei um vídeo explicando como fazer um papiro. Você vai ver que, apesar de ter várias etapas e um longo processo, é super fácil e divertido!
Para produzir o papiro, primeiro o caule da planta é cortado em diversas tiras, como se fosse uma cana de açúcar, e depois cortado novamente em pedaços mais finos. Nesse momento, é possível ver que o material é bem quebradiço e frágil, quando amassado ou enrolado. Para que isso não aconteça, é necessário bater com o martelo para tirar o excesso de água.
Após esse processo, é importante deixar essas tiras de molho na água por vários dias. Algumas vão escurecer e outras clarear. Depois, cada pedaço deve ser entrelaçado entre uma e outra tira para que a trama seja formada. Depois que a peça é feita, novamente o excesso de água deve ser retirado, mas dessa vez com um rolo, e, depois, deixado por cerca de seis dias numa prensa.
Mas calma, que ainda não acabou! Depois de passar uns dias prensado, o papiro deve ser umedecido novamente e depois alisado por uma pedra lisa e macia. Aí, sim, o papiro estará pronto. Após esse processo, ele estará pronto para uso.
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Uma resposta
Parabéns pr. Rodrigo Silva, dá prazer ouvir você explicar os assuntos mais complexos da Bïblia, como também, os assuntos históricos que ficam mais claros para nós, quando são explicados por você.