No capítulo 6 do livro de Gênesis, há uma passagem enigmática que por séculos tem alimentado debates teológicos, interpretações místicas e até roteiros de filmes:
“Quando os homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas, os filhos de Deus viram que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram…” (Gênesis 6:1-2)
Essa passagem é o ponto de partida para uma teoria polêmica: os chamados “filhos de Deus” seriam anjos que se apaixonaram por mulheres humanas, gerando descendentes que seriam os famosos gigantes ou Nefilins.
Segundo essa interpretação, os anjos teriam descido do céu, se unido às mulheres, e o resultado dessa união teria sido uma raça híbrida de gigantes — seres poderosos e temidos, que teriam sido uma das razões para o dilúvio universal.
Mas… será que isso faz sentido?
Três razões para questionar essa teoria
Embora popular entre certos teólogos e presente até em escritos da tradição judaica, essa teoria tem seus pontos fracos — e aqui vão três bons motivos para você colocar a pulga atrás da orelha:
1. Jesus disse: anjos não se casam
No Novo Testamento, Jesus afirma claramente que os anjos “não se casam nem se dão em casamento” (Mateus 22:30).
Alguns até dizem: “Ah, mas isso não quer dizer que eles não possam ter relações!” Mas sejamos honestos, a expressão usada é idiomática — e na cultura judaica, “casar-se” implica intimidade física. Logo, essa afirmação de Jesus pesa bastante contra a ideia de que anjos poderiam gerar filhos com humanos.
2. Os gigantes já existiam antes dessa suposta união
Olhe com calma o texto de Gênesis 6:4:
“Naqueles dias havia gigantes na terra — e também depois, quando os filhos de Deus se uniram às filhas dos homens…”
Ou seja, os gigantes já estavam na terra antes desse episódio com os “filhos de Deus”. Eles também continuaram existindo depois do dilúvio. Se fossem apenas resultado dessa união, como explicar isso?
3. Por que Deus destruiria toda a humanidade por um pecado dos anjos?
Outro ponto chave: se o pecado foi dos anjos, por que Deus puniria a humanidade inteira com um dilúvio?
A Bíblia é bem direta: Deus destruiu o mundo antigo por causa da corrupção moral da humanidade, não por algo que seres celestiais tenham feito. Veja Gênesis 6:5:
“Viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra…”
O foco da punição está no homem — suas ações, sua violência, sua depravação. Não há menção clara a castigos angelicais nessa parte do texto.
Então… quem eram os gigantes?
A Bíblia oferece algumas pistas interessantes. Os gigantes — também chamados de Nefilins ou os descendentes de Enaque (Anac) — parecem ter sido um povo de estatura incomum, mas ainda assim humanos.
Descendência de Anac e presença em Canaã
Segundo relatos bíblicos, Anac foi o primeiro de uma linhagem de gigantes. Eles habitavam a região de Canaã e, mais tarde, migraram para as terras dos filisteus.
“Vimos ali os gigantes, filhos de Enaque, descendentes dos gigantes; éramos aos nossos próprios olhos como gafanhotos, e assim também éramos aos seus olhos.” (Números 13:33)
Esse relato dos espiões de Israel mostra que esses homens eram realmente altos e imponentes — mas ainda humanos. Nada de asas ou poderes celestiais.
A arqueologia e os gigantes
Existem evidências arqueológicas que podem corroborar com a existência desses gigantes — sem precisar apelar para teorias angelicais.
Papiro Anastasie I: um testemunho fora da Bíblia
Esse documento egípcio antigo menciona uma tribo da região de Canaã (região de “Xu” no papiro) composta por guerreiros de estatura incomum:
“Alguns deles têm quatro ou cinco côvados da cabeça aos pés, rosto feroz, seu coração não é brando e eles não dão ouvidos à persuasão.”
Quatro a cinco côvados equivalem a algo entre 2,13 m e 2,45 m de altura. Já imaginou um povo inteiro com essa estatura naquela época?
Arte egípcia também confirma
Relevos encontrados sobre a Guerra de Cades mostram soldados egípcios capturando dois espiões cananeus — e mesmo ajoelhados, os espiões quase alcançam a altura dos soldados em pé!
Essas evidências apontam para uma população realmente mais alta do que o comum. E tudo isso sem precisar envolver anjos.
E afinal, quem eram os “filhos de Deus”?
Uma interpretação mais coerente com o restante da Bíblia é que os “filhos de Deus” eram descendentes da linhagem de Sete — o filho de Adão — considerados tementes a Deus.
Já as “filhas dos homens” seriam descendentes da linhagem de Caim, marcada por uma cultura de afastamento espiritual.
Assim, o que o texto quer dizer é que os justos começaram a se misturar com os ímpios, o que aumentou ainda mais a corrupção do mundo pré-diluviano.
E aí, faz sentido?
A teoria dos anjos apaixonados pode até parecer fascinante, mas quando analisada à luz da Bíblia e da história, ela perde força. Existem explicações mais sólidas — e até mais compatíveis com a fé cristã — para entender quem eram os gigantes e o que realmente levou Deus a destruir a humanidade com o dilúvio.
Então, da próxima vez que alguém te disser que os gigantes bíblicos vieram de anjos que desceram à Terra… bom, agora você já sabe que a história pode ser bem diferente!
Assista a aula completa sobre o tema no vídeo abaixo.





