Quando alguém fala em querubim, a imagem que vem à mente quase sempre é a de criancinhas rechonchudas, sorridentes e aladas, típicas de cartões de Natal ou pinturas católicas renascentistas. Mas, ao mergulharmos nas páginas da Bíblia, percebemos que essa visão popular está bem distante das descrições originais. Os querubins não eram bebês fofinhos com asas, mas seres celestiais complexos, de formas misteriosas e significados profundos.
Embora mencionados nominalmente apenas uma vez no Novo Testamento (Hebreus 9:5), eles têm uma presença marcante no Antigo Testamento, aparecendo como guardiões, ministros da vontade divina e símbolos da glória de Deus. Então, quem são esses seres tão enigmáticos? Vamos descobrir juntos
Origem e significado do termo “Querubim”
O termo em hebraico é kerub (singular) e kerubim (plural). Embora sua etimologia exata seja debatida, muitos estudiosos acreditam que possa significar “guardião” ou “aquele que intercede”. Essa ideia faz bastante sentido, já que as funções atribuídas aos querubins sempre envolvem proteção, vigilância e proximidade da presença divina.
Querubins no Antigo Testamento
No Antigo Testamento, os querubins são retratados como seres celestiais de alto nível, com papéis de guardiões e ministros da vontade de Deus. Vamos conferir alguns exemplos marcantes:
- Gênesis 3:24 – Após a queda, Deus coloca querubins com uma espada flamejante para guardar o caminho da árvore da vida no Éden.
- Êxodo 25:18-22 – Dois querubins de ouro, com asas estendidas, são colocados sobre a Arca da Aliança, no propiciatório. Eles simbolizavam a presença do próprio Deus.
- Êxodo 26 – Imagens de querubins estavam bordadas nas cortinas e no véu do tabernáculo.
- 1 Reis 6 – No Templo de Salomão, esculturas grandiosas de querubins decoravam o Santo dos Santos.
- Salmos 80:1 e Isaías 37:16 – Deus é descrito como “entronizado acima dos querubins”, indicando sua majestade e presença.
- Ezequiel 10 – Talvez a descrição mais detalhada e, ao mesmo tempo, mais enigmática: querubins com quatro rostos (homem, leão, boi e águia), asas, pés semelhantes a bezerros e aparência radiante.
Perceba que em nenhum momento eles são descritos como bebês ou crianças aladas. Pelo contrário, suas formas são complexas, híbridas e até assustadoras aos olhos humanos.
Querubins: guardiões da presença divina
Um aspecto essencial dos querubins é a função de guardiões. Desde o Éden até o Templo de Salomão, eles estão sempre associados à ideia de proteger o sagrado:
- Guardavam o acesso à árvore da vida.
- Simbolizavam a santidade da Arca da Aliança.
- Eram representados nos lugares mais santos do tabernáculo e do templo.
Na teologia judaica e cristã, isso reforça a noção de que a presença de Deus não pode ser acessada de forma leviana. Os querubins, nesse sentido, eram como sentinelas da santidade divina.
Da Bíblia à arte: como surgiram os “anjinhos” fofos?
Mas então, de onde veio essa imagem popular dos querubins como bebês gordinhos com asas?
A resposta está na arte renascentista e barroca. Inspirados em elementos da mitologia greco-romana, como os putti (figurinhas infantis aladas usadas em esculturas e pinturas), artistas cristãos reinterpretaram os querubins bíblicos, transformando-os em símbolos de pureza, inocência e amor.
Essa imagem se popularizou tanto que, até hoje, ao falar de querubim, muitos pensam primeiro em cupidos e cartões de Dia dos Namorados, e não nos seres impressionantes descritos por Ezequiel.
Querubins e a visão cristã
Na tradição cristã, os querubins foram incluídos nas hierarquias angelicais. De acordo com a teologia medieval, especialmente a de Pseudo-Dionísio, eles ocupam uma posição elevada entre os anjos, estando próximos do trono de Deus.
Isso ecoa a própria Bíblia, que sempre os mostra ao redor da glória divina, exaltando a santidade de Deus e servindo como símbolos de sua majestade.
Querubins: forma misteriosa e multifacetada
As descrições bíblicas dos querubins são tão variadas que até hoje geram debates. Alguns os veem como representações simbólicas:
- O rosto de homem simbolizaria a inteligência.
- O rosto de leão, a coragem.
- O rosto de boi, a força.
- O rosto de águia, a visão espiritual.
Outros defendem que Ezequiel descreveu literalmente uma visão sobrenatural, impossível de ser comparada com criaturas terrestres. Seja qual for a interpretação, a mensagem é clara: os querubins representam a majestade, a glória e a inacessibilidade do sagrado.
Curiosidades sobre os Querubins
- No hebraico, “cherubim” já é plural. O singular é ckerub.
- Em diversas culturas do Oriente Médio antigo, existiam figuras semelhantes a guardiões alados (como os lamassu assírios), o que pode ter influenciado a iconografia bíblica.
- Apesar da fama popular de “anjinhos”, a Bíblia nunca descreve querubins como crianças.
Os querubins são, sem dúvida, um dos seres mais intrigantes das Escrituras. Entre guardiões do Éden, esculturas no templo e visões arrebatadoras de Ezequiel, eles nos lembram da santidade inacessível e da glória tremenda de Deus.
Ao mesmo tempo, o contraste entre o querubim bíblico e o “anjinho” da arte popular revela como a cultura molda nossa percepção religiosa. No fim das contas, seja na Bíblia ou na arte, os querubins continuam despertando fascínio, curiosidade e reverência.
Continue estudando com A Bíblia Comentada. Clique aqui e saiba mais.